domingo, 17 de maio de 2015




A RAZÃO ESTÁ MORTA
por Francis Schaeffer .

O selo do Iluminismo era “A Razão é a Rainha”. Os pensadores seguintes conscientemente negaram a necessidade da Revelação. Como Paul Hazard no pensamento Europeu no séc. XVIII diz, eles põem o cristianismo em julgamento.
Gradualmente, contudo, os problemas da coroação da razão humana emergiram. A razão do homem não era grande o suficiente pras grandes questões, e o que ao homem foi deixado foi o conhecimento relativo e a verdade relativa. Ao invés de aceitarem a derrota diante da Revelação de Deus, os humanistas estenderam a revolução além – e em uma direção que seria impensável aos seus predecessores do século XVIII. O irracionalismo moderno nasceu.

Nós poderíamos voltar até Immanuel Kant (1724-1804) na filosofia e a Friederich Schleiermacher (1768-1834) na teologia. O existencialismo moderno é também relacionado a Soren Kierkegaard (1813-1855). De qualquer forma, nossa intenção aqui não é nem entrar na história do irracionalismo, nem examinar os proponentes do existencialismo no nosso próprio século, mas antes nos concentrarmos em sua tese principal. É isso que nos confronta por todos os lados hoje, e é impossível entender o homem moderno sem entender esse conceito.
Como nós devemos lidar com muitos termos a partir de agora, nós pediríamos ao leitor que prestasse atenção cuidadosamente. Quando nós falamos de irracionalismo ou existencialismo ou metodologia existencial, nós estamos apontando para uma ideia muito simples. Isso pode ter sido expressado em uma variedade de maneiras complicadas pelos filósofos, mas não é um conceito difícil.

Imagine que você está no cinema assistindo a um filme de suspense. A medida que a história se desenrola, a tensão aumenta até finalmente o herói ser preso em alguma situação impossível e todos estão gemendo interiormente, imaginando como ele sairá do problema: o suspense é intensificado pelo conhecimento (da plateia, não do herói) que a ajuda está a caminho na forma de pessoas boas. A única questão é: as pessoas boas chegarão a tempo?

Agora imagine por um momento que a audiência comete o erro de achar que não existem pessoas boas, e que a situação do herói não é apenas terrível, mas completamente desesperadora. Obviamente, a primeira coisa que aconteceria seria que o suspense do filme iria embora. Você e toda a audiência iriam simplesmente esperar que o machado caísse.

Se o herói enfrentasse a situação com coragem, seria moralmente edificante, mas a situação em si seria trágica. Se, por outro lado, o herói agisse como se a ajuda estivesse se aproximando e mantivesse-se com esse pensamento (“Alguém está a caminho!” – “A ajuda está a um passo!”), tudo o que vocês sentiriam por ele seria pena. Seria um meio de manter a esperança viva numa situação desesperadora. A esperança do herói não muda nada do lado de fora; seria impossível fabricar, a partir do nada, pessoas boas vindo resgatá-lo. Tudo o que isso conseguiria seria o estado de esperança no lugar do desespero na própria mente do herói.

A esperança por si estaria fundada numa mentira ou uma ilusão e, portanto, vista objetivamente, seria finalmente absurda. E se o herói realmente soubesse da real situação, mas conscientemente usasse de falsidade pra não deprimir-se e continuasse assobiando enquanto isso, nós diríamos “Pobre homem!” ou “Ele é um tolo!” Esse é o tipo de engano consciente que alguém como Woody Allen olhou na face e do qual não terá nem um pouco.

Agora disto que trata a metodologia existencial. Se o universo em que estamos vivendo é como os materialistas humanistas dizem, então com nossa razão (quando nós paramos de pensar nisso) nós não poderíamos encontrar absolutamente nenhum caminho para a moralidade, ou esperança ou beleza. Mergulharíamos no desespero. Nós teríamos que tomar seriamente o desafio de Albert Camus (1913-1960) em sua primeira sentença de O Mito de Sísifo:

“Existe apenas um único problema filosófico sério, e ele é o suicídio.”

Por que permanecer vivo em um universo absurdo? Ah! Mas não é aí que paramos. Nós dizemos a nós mesmos “Existe esperança!” (mesmo pensando que não existe ajuda). “Nós devemos triunfar!” (mesmo pensando que nada é mais certo que nós devemos ser destruídos, ambos individualmente na morte e cosmicamente com o fim de toda vida consciente). É isso o que confronta-nos de todos os lados hoje: o irracionalismo moderno.

[por Francis Schaeffer em "The Basis of Human Dignity". - Tradução por Antonio Vitor.]

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