domingo, 14 de junho de 2015


A REVOLUÇÃO CIVIL - PARTE 7
por J. R. Rushdoony.

A Revolução Civil não foi apenas um resultado de vários movimentos dentro da esfera política, mas também do declínio da teoria Bíblica dentro da igreja. A heresia de Pelágio na igreja primitiva retornou repetidamente para clamar por controle sobre a igreja. O Dictionary de Webster (1909, segunda edição) definiu o Pelagianismo nos seguintes termos:


"(1) Não existe tal coisa como pecado original; consequentemente, (2) não há regeneração batismal, nem condenação para crianças não batizadas, nem mancha hereditária do pecado de Adão. (3) O homem tem perfeita liberdade de vontade e não tem nenhuma necessidade absoluta da Graça de Deus para torná-lo justo. (4) O homem, embora auxiliado de várias maneiras pela graça divina, é virtualmente o autor de sua própria salvação."

Algumas igrejas Reformadas limitariam-se ao número 2, para "nem mancha hereditária do pecado de Adão" porque eles rejeitam a regeneração batismal e, em outras instâncias, rebatem a reprovação de crianças não batizadas pela ênfase no pacto familiar acima do rito pactual do batismo como um fato importante.

Em qualquer caso, o Pelagianismo enfatiza a vontade livre e os poderes independentes do homem com referência a Deus. Ao "libertar" o homem da predestinação de Deus, eles libertam também o estado, em tudo aquilo do mundo é dada uma jurisdição independente. Isso significa também "libertar" o homem da lei de Deus, porque a vontade livre do homem, desprovida de qualquer mancha hereditária, dá ao homem um lei natural e uma divindade natural.

A lei natural no pensamento greco-romano é identificado com o estado e com a razão. Na era medieval, Gratian identificou a lei natural com a Lei e com os Evangelhos. [1] Na era moderna, a lei natural substituiu a Lei de Deus e tem sido vista como uma lei inerente à natureza. Ao mesmo tempo, a lei natural advoga ter cumprido a doutrina do universo caído. Norman L. Geisler cita Romanos 1:19-20 para afirmar que todos os homens têm a revelação geral de Deus, que é verdadeiramente suficiente, mas ele não cita a afirmação qualitativa de Romanos 1:18, de que todo homem "detém (ou suprime, rejeita) a verdade em injustiça." Sua resposta para o tipo de leis que um governo civil deveria ter é a de que elas não devem ser nem cristãs, nem humanistas: "Antes, elas deveriam simplesmente ser leis justas. Leis não deveriam ser nem Cristãs nem anti-Cristãs; elas deveriam ser simplesmente retas." [2]

"Leis retas"? E qual é o critério de retidão? Cada religião, incluindo o Humanismo, tem sua própria doutrina de justiça e retidão. Seriam as "leis retas" as leis naturais? Mas a ideia de lei natural, em suas formas Cristã e Iluminista, é essencialmente um produto da Cristandade.

Mas isso não é tudo. Geisler escreve "leis retas." Ele está dizendo que a lei de Deus como colocada na Escritura não é reta? Ele está insinuando que quando Deus deu sua revelação geral, como descrita em Romanos 1:18ff, Ele deu uma lei que difere de Sua lei escritural? A lei "Não Roubarás," ou "Não cometerás adultério" (Ex 20:15,14), são válidas apenas para judeus e cristãos e para ninguém mais? Se Deus é o Criador de todos os homens, como Sua Lei pode não ser reta para qualquer pessoa? Quando o salmista declara "Se a tua lei não fora toda a minha recreação, há muito que pereceria na minha aflição." (Sl 119:92), Geisler diz que ela "é um legalismo temeroso." [3]

Geisler acredita que existe um tipo de lei "reta" e natural em algum lugar da natureza no qual todos os homens podem concordar. Será que o assassino, o adúltero, o ladrão ou o mentiroso concordariam conosco em qualquer lei? Não são eles, como muitos outros, homens sem lei, transgressores, e pecadores? Qualquer lei que todos os homens concordarão é "reta", ou qualquer lei que Cristãos, Mulçumanos, Budistas, Humanistas, e outros religiosos concordarão, não serão lei de forma alguma; elas terão tantas qualificações que seu significado será esquecido.

Mas o Pelagianismo afirma a habilidade do homem para raciocinar sem dificuldade, para agir livremente sem a deformação da Queda, e para legislar retamente sem o único verdadeiro Legislador, Deus todo-poderoso.

Onde quer que o homem atribua a si mesmo qualquer esfera independente à parte do Deus Triúno e independente de Sua Lei, ele abre a porta para todo o mal, e para a arrogância. Nós não podemos viver fora de Deus por um momento, nem podemos jamais encontrar uma esfera ou um segundo de vida onde a Lei de Deus não nos governe.

A arrogância do paganismo não era sua negação da ideia de Deus, mas a rejeição de Deus como soberano absoluto do homem e como legislador. Isso foi apenas algumas poucas gerações antes da Conquista dos Normandos de 1066 que "o moribundo Earl Seward pediu por seu escudo e por seu machado por medo de encontrar o Deus desarmado, 'como uma vaca.'" [4]

O mundo de O Príncipe de Maquiavel é um onde o Cristianismo não tinha nenhum poder para determinar eventos; a fé era incompleta e seu impacto social era fraco. "Retidão" não substituiu a Lei de Deus, mas a busca por poder o fez. O poder sendo o objetivo, o governante deve aprender a cometer atrocidades para manter e aumentar poder. [5] Mais ainda, "é necessário para o príncipe, que deseja preservar-se a si mesmo, aprender a não ser bom, e a usar este conhecimento e a não usá-lo, de acordo com a necessidade do caso." [6] Maquiavel deu instruções de como enganar os homens, destruir a fé com eles, e assim por diante.

As leis de estadismo de Maquiavel governam a nossa era, e toda era que abandona a Palavra-Lei de Deus. As ideias de "retidão" de Maquiavel são claras; quaisquer meios usados para conquistar e manter o poder são retos. 

Nós encaramos um fato curioso. Homens fora da igreja podem discutir o crescimendo do fato da secularização, e o desenvolvimento do monopólio secular do estado, [7] mas homens da igreja agem como se seu carrasco viesse com um buquê de flores. Eles estão prontos para pensar mal apenas de seus companheiros Cristãos!

Nós precisamos lembrarmo-nos a nós mesmos de novo e de novo das palavras de O. Halecki, em The Limits and Divisions of European History (1950): "A tentativa de criar uma cultura que seria Europeia sem ser Cristã... está agora reconhecida como a principal causa da presente crise na civilização Europeia." [8] Aqueles homens da igreja em grande número são uma parte da revolução, essa des-Cristianização do Ocidente, é um fato tanto incrível quanto feio. 

(Artigo extraído de "Sovereignty", de Rushdoony. Págs. 293-296)

1. Gratian's Decretum (c. 1148), in Ewart Lewis, Medieval Political Ideas, vol. 1 (New York, NY: Cooper Square Publishers, 1974), 32.
2. Norman L. Geisler, "Should We Legislate Morality?" Fundamental Journal (July-August 1988): 64.
3. Ibid., 17.
4. Richard Hall, "The Vikings Town-Dwellers," History Today 36 (November 1986): 37.
5. Niccolo Machiavelli, The Prince, in Machiavelli, The Prince and the Discourses, (New York, NY: Modern Library, 1940), chap. 8, 35.
6. Ibid. chap. 15, 56.
7. David Martin, A General Theory of Secularization (New York, NY: Harper & Row, 1978).
8. Halecki, 51, cited in David C. Douglas, The Norman Fate, 1100-1154 (Berkeley, CA: University Press, 1976), 8.

Rev. R. J. Rushdoony (1916-2001) foi o fundador do Chalcedon e um teólogo influente, especialista na relação entre Igreja e Estado, e autor de numerosos trabalhos relacionados à aplicação da Lei Bíblica na sociedade.

Tradução por Antonio Vitor.

Essa tradução foi autorizada por Mark Rushdoony, filho de Rousas John Rushdoony.

Soli Deo Gloria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário