sábado, 18 de fevereiro de 2017

POP ART E NIILISMO



A Pop Art nasceu de um impulso fortemente niilista, uma negação dos valores e do sentido. Nas palavras de Hans Rookmaaker [em A Arte Moderna e a Morte de uma Cultura], ela pareceu encarnar "um misto de humor e raiva, de sorrisos e lágrimas, de aceitação condescendente e rejeição irada, de amor e ódio, de vida e morte." "Infelizmente", diz Rookmaaker, "o nosso século ensinou às pessoas a verem o absurdo em todas as coisas, o caráter comercial, a barateza do cromo brilhante, o vazio e a superficialidade. (...) a degradação de muitas coisas que não eram necessariamente sagradas, mas estimadas e valorizadas de forma emocional."

Andy Warhol, um de seus criadores, fazia "arte" com a sacralização daquilo que é banal e banalização daquilo que é sagrado. A repetição nauseante da famosa lata Campbell's, um de seus ícones, atingiu a escala comercial, diferenciando-se um pouco do elitismo de outros artistas modernos, que consideram-se iluminados acima da multidão.



A comercialização da imagem de Che Guevara estampada em tantas camisas foi um de seus legados.


O pop é o banal, o vulgar, a sátira contra os valores. Na pós-modernidade, verdades não existem mais. Não há, pois, realidade, valores, nem sagrado.

Quando os Engenheiros do Havaí cantaram que "o papa é pop" (uma música deveras niilista), eles estavam lamentando a banalização até mesmo de uma tentativa de assassinato, mesmo que não encontrassem alternativa para a falta de sentido.

Eis a crise do homem sem Deus.

NOTAS SOBRE ARTE MODERNA


Notas sobre Arte Moderna.
"O desejo do homem apóstata, como Jean-Paul Sartre percebeu em Saint Genet, é pelo mal absoluto, uma total pureza no mal e uma pureza no ódio a Deus. Os artistas em particular têm perseguido esse objetivo de profanação, blasfêmia e mal com intensidade. Richard N. Col afirmou que "questionar os valores é o direito de nascença do artista." Isso significa que o artista, como um profeta Sadeano, planeja criar um novo e radical mundo sem significado, em efeito, fazer um inferno na terra." ~ Rushdoony

*** O establishment artístico é, sim, uma comunidade elitista, que pouco se importa com as opiniões dos "não-iluminados" e que é defendido pela esquerda por ser um ataque contra a objetividade. Entretanto, eu tenho medo de certo reducionismo que pode ser interpretado a partir do vídeo. Não dá pra dizer que aquela seja TODA "A verdade sobre a arte moderna", embora seja boa parte dela. Do meu ponto de vista, não é possível entender a arte moderna fora de seu escopo filosófico - e ele vem desde Kant.

*** Quando Eva descreu em Deus e creu na serpente, ela rejeitou seu auto-conhecimento, sua realidade enquanto criatura, em favor de um objeto mental criado pela imaginação, um ídolo de si mesma: "ser como Deus." O homem moderno, semelhantemente, rejeita a realidade sobre si quando nega ser um pecador. Ao rejeitar a doutrina da depravação total, o humanista começa a viver em desarmonia com o mundo, porque ele não reconhece sua própria condição. Ele vive uma ilusão. Como consequência, ele precisa encontrar a causa de seu sofrimento fora de si, no mundo criado. A culpa do mal está supostamente nas instituições: no estado, na igreja, na família, nas placas homofóbicas dos banheiros, etc. Sua atitude, portanto, será "refazer" o mundo com a revolução, fugir do mundo criado para a utopia, que, em si, também é meramente uma construção mental. E, por não ver a realidade como ela é, essa revolução sempre terminou em caos e destruição. A despeito dos resultados negativos, a ilusão persiste. "Utopia, ainda que você morra por ela".

A Revolução é, portanto, uma atitude escapista. Os revolucionários querem escapar da realidade em favor do "fim da história" ou de um reino absoluto de justiça e igualdade, como em Marx, fechando os olhos para as diferenças evidentes do mundo real. O existencialismo e a ideologia de gênero são outras das expressões desse escapismo da realidade. Como Eva, Sartre estava consciente do desejo que o homem tem de "ser como Deus". Negar a própria natureza a favor de um objeto mental é a atitude do ocidental moderno. A despeito de nascer como menina, você pode ser menino. A despeito de ser um homem com filhos, um indivíduo nos EUA deseja ser uma menina de 6 anos de idade.

Nas artes, esse escapismo também é refletido. Marcel Duchamp, por exemplo, ícone do dadaísmo, fez uma pintura chamada "Mulher Nua Descendo as Escadas". A despeito do nome, a pintura é um arranjo grosseiro de rabiscos ininteligível. A arte abstrata nasceu como uma resposta profundamente espiritual contra o "racionalismo". O cubismo, por sua vez, também rejeitou a realidade. Na arquitetura, a beleza foi sobrepujada pela ousadia, pela emoção e pela quebra de paradigmas. É na arte que o homem moderno satisfaz seu ímpeto criador de forma quase ilimitada.

"Nu descendo a escada", Duchamp. 1912.


Os movimentos estudantis de esquerda são reconhecidos por alguns como uma rebeldia contra a maturidade, um desejo de "retornar ao útero materno", escapar das responsabilidades da vida adulta. Os hippies buscavam experiências místicas em sua busca pela natureza. As drogas eram vistas como sacramentos religiosos pelos quais se "transcendia" das amarras psicológicas ocidentais, como definidas por Marcuse. Sem Deus, o homem foge da realidade, porque ela só faz sentido com Ele.


*** A arte moderna tem como pano de fundo uma filosofia estética própria, adotada na forma de "expressão livre" do artista autônomo. Esse artista é, acima de tudo, o criador de uma nova realidade, um profeta das "verdades" de um universo caótico, desprovido de qualquer ordem ou sentido. É por isso, também, que ela é um escape da realidade, um ataque contra ela. É um impulso à ficção, que está presente em todas as áreas na modernidade. Se não existe essência, então você pode, como Duchamp, dizer que um aparsanitário é uma "fonte" [ver imagem a seguir; "A Fonte", 1915] e ficar rico expondo isso como se fosse um insight genial. Ou você pode fazer as chamadas "intervenções" artísticas grotescas tão comuns nos centros de Ciências Humanas das universidades de todo o Ocidente. Semelhantemente, a visão ilusória que muitos esquerdistas alimentam do socialismo também evidencia esse tipo de impulso, no momento em que defendem que o socialismo "genuíno" é aquele que eles imaginam na própria cabeça, a despeito do socialismo real, fracassado, totalitário e genocida.


OS PROFETAS DO CAOS



René Girard, em "Aquele Por Quem Vem o Escândalo", nota que a autocrítica é um fenômeno tipicamente ocidental, inexistente em outras culturas. Um insight muito perspicaz, sem dúvidas. Embora possamos rastrear algo desse criticismo na Grécia Antiga, o trabalho de crítica social é próprio da função profética da nação do Pacto na religião cristã. Deus levantava profetas para, baseados em sua Lei, exortar a nação para o arrependimento. E na história da Igreja, esse profetismo manteve-se vivo.

Com a secularização e a perda do conteúdo *explicitamente* religioso, a função profética da igreja sofreu grave abalo na vida pública. Os artistas, afinal, assumiram essa função pra si. Como Rushdoony afirma, com José Guilherme Merquior e Hans Rookmaaker, a arte moderna reclamou pra si a função profética de "crítica da civilização". Baseados, não na Lei de Deus, mas na rejeição cartesiana da objetividade do mundo exterior, os artistas transformaram-se em profetas pagãos do caos, da negação da vida prática e suas leis. Sua pregação é contra as necessidades do mundo material, contra a moralidade e contra qualquer coisa além da própria existência. A arte moderna rejeita "o caráter repressivo da realidade" em favor de uma "mística de liberdade espiritual". Embora prescinda dos valores religiosos cristãos, o artista é essencialmente religioso, em outro sentido.

Como Henry Van Til dissera (e citá-lo já virou quase um clichê), cultura é "religião externalizada". O artista coloca-se acima do mundo e da sociedade, donde todo o seu desdém, sua boemia e seu ódio do mundo real e do trabalho é usado como credencial de sua autoridade espiritual e hermética, acima da opinião comum, como se fossem uma elite de "super-homens" nietzschianos, que coloca-se acima do bem e do mal para pregar, através da arte, o caos próprio das religiões pagãs de fertilidade, e revelar ao homem contemporâneo a absurdidade existencial. Sua postura é sempre a de ruptura e destruição da ordem vigente, e é inescapável que sejam compreendidos como subversivos e arautos da desordem. Trata-se de um fenômeno sempre direcionado para o abismo.

Albert Camus acusou publicamente os filósofos de praticarem o assassinato premeditado sob a chancela da liberdade filosófica. Os artistas, semelhantemente, requerem uma espécie de "foro privilegiado" para sua atitude dissimuladamente religiosa, pagã e neoplatônica, seu ódio do mundo e da classe média, sob a chancela de liberdade artística. Permitem-se, assim, o direito de ofender a sociedade - especialmente a religião - e, quando contrariados, apelam para sua "liberdade de expressão", veementemente negada a quem quer que esboce qualquer julgamento moral. A arte, dizem, é livre do bem ou mal. O único mal é a moral, principalmente a moral sobrenatural cristã, que nega o primitivismo dos impulsos reprimidos do id freudiano.

Há alguns anos, durante um evento cultural na cidade de Oeiras, no sul do Piauí, um artista estrangeiro convidado e financiado pelo governo do estado enfiou uma bandeira do nosso estado no ânus e dançou nu diante da plateia. Isso é arte. E quem não aceita é alienado. Tal retórica canalha é paradoxalmente defendida ao mesmo tempo em que boa parte dos defensores da tradição moderna não percebe a incoerência entre seus clamores por igualdade democrática e o elitismo espiritual do meio artístico moderno em si. O pior é que nossa classe política, algumas vezes até impulsionadas pela boa intenção de incentivar a arte que definitivamente não entende, é completamente despreparada para lidar com o dilema e acabamos, como que por tragédia, sendo obrigados a financiar aqueles que nos ofendem através dos impostos que pagamos.

A arte é essencialmente uma manifestação religiosa e os conflitos que hoje vemos são o sinal da grande crise ocidental denunciada por Spengler e Toynbee.